terça-feira, 13 de novembro de 2012

Santa Catarina Labouré


Catarina Labouré vem ao mundo na aurora do mês de Maria a 2 de maio de 1806, na pequena aldeia de Fain-les-Moutiers, situada no sudoeste de Montbard, sobre o canal da Borgonha. Logo no dia seguinte o sino da Igreja carrilha com toda força, na campina florida anunciando o seu batismo.
Elevando-se por entre as árvores, uma torrezinha pontiaguda com algumas casas agrupadas em volta: é Fain-les-Moutiers, terra rica de prados, de trigais e de vinhas. A poucos passos da igrejinha paroquial, num grande pórtico abobadado que dá acesso a um pátio da fazenda, rodeado por várias construções: é a propriedade dos Labouré.
À direita, um pombal maciço como uma torre feudal, à esquerda os sólidos compartimentos da casa: a ampla cozinha com sua pitoresca queijaria e as duas lareiras e em seguida, alguns quartos rústicos. Os pais são de origem camponesa, raça sólida e equilibrada. O pai, o mestre Labouré, goza da estima geral na região. Em 1793 casou-se com uma jovem dos arredores: Luisa Gontard.
Com o nascimento de Catarina já eram oito filhos: uma menina, Maria Luisa e sete meninos. Mais tarde, no lar haverá ainda espaço para Tonine e Augusto. Nesta família onde reina tanto amor fraterno, Deus ocupa o primeiro lugar. Juntos, rezam a Ele,todas as noites e as crianças aprendem as orações muito antes de saber ler. De fato, a instrução de Catarina é considerada uma coisa secundária: a escola fica distante, não é obrigatória e a mãe tem tanto que fazer!
Enfraquecida pelo duro trabalho e pelas maternidades frequentes a saúde de Luísa Labouré declina. Morre aos 42 anos deixando a família em grande sofrimento. Privada da ternura materna, Catarina, com apenas nove anos, refugia-se no imenso amor da Virgem Maria: De agora em diante, Tu serás a minha mãe.
Após uma estadia de dois anos em casa de uma tia, em Saint-Remy, Catarina e Tonine, sua irmãzinha mais nova, voltam à fazenda. Catarina fará doze anos, é alta, forte e jeitosa para toda a lida da casa. Durante sua ausência, Maria Luisa, a irmã mais velha, conhecera em Langres as Filhas da Caridade e compreende sua vocação. É preciso partir, deixar pai, irmãos e irmãs. Catarina, decidida e prática resolve a situação: Tonine e eu poderemos muito bem movimentar a casa. Diz ela ao pai.
Pedro Labouré acaba cedendo. Maria Luísa seguirá livremente seu caminho e Catarina dirigirá a casa. Uma grande fazenda exige muito trabalho, no entanto todos os dias de madrugada a menina se dirige para a Igreja de Moutiers-Saint-Jean, para assistir à missa. Em 1818 fará sua primeira comunhão.
Apesar de seu trabalho a jovem sujeita-se a duras penitencias. Jejua sexta feira e sábado, mesmo durante os trabalhos mais pesados. Preocupada com a saúde da irmã, Tonine ameaça dizer ao pai. Pois vá, responde Catarina em tom seco. Pedro Labouré se contenta com fazer algumas observações. Não tendo mais que temer repreensões a adolescente refugia-se na igrejinha de Fain logo que o trabalho permite. Aí reza de joelhos sobre as lajes mesmo quando geladas no tempo do frio. Na aldeia todos estimam Catarina. Apresentam-se diversos candidatos para um futuro casamento. Ela é séria, corajosa, saudável e o pai possui muitos bens. Mas sua resposta é sempre não.
Pelos 19 anos um estranho sonho confirma-lhe o verdadeiro sentido de sua vida: parece estar em oração na Igreja de Fain. No altar, um sacerdote idoso, revestido dos paramentos sagrados celebra a missa. Terminada a cerimônia ele se volta e faz-lhe sinal para se aproximar. Catarina assustada foge, mas o sonho continua. Está agora à cabeceira de um doente. Lá está também o velho padre e lhe diz: Minha filha é bom tratar dos doentes. Agora foges de mim, mas um dia serás feliz por vir a mim. Deus tem os seus desígnios sobre ti, não o esqueças. O chamado será ouvido. Mas, fiel à lei do silêncio a que imporá a si mesma durante toda a vida, não dirá uma palavra sobre este encontro; apenas conhecemos as palavras de sua irmã Tonine: Ela já não era da terra, estava toda mística. O caminho da dedicação estava traçado: doação total a serviço dos mais desfavorecidos no seguimento de Jesus Cristo. Em 1828 Catarina tem 22 anos e Tonine 20. Esta pode agora substituí-la na fazenda.
Era chegada a hora de falar ao pai sobre sua vocação. Encontrando-se com as Filhas da Caridade que trabalham no hospício de Saint-Jean pensa em entrar nessa comunidade. A resposta do pai foi imediata e formal: não te deixo ir. Catarina se submete ao pai aquém tanto ama, embora com grande pesar no coração. Pedro Labouré quer a todo custo desviar a filha dos projetos. Que fazer então? Talvez uma temporada em Paris, em casa do filho Carlos que tem um restaurante para operários possa fazê-la mudar de ideia. Poucos dias depois Catarina, muito sofrida, mas obediente toma lugar na carruagem de Paris. Jamais tornaria a ver a torrezinha da Igreja de Fain-les-Moutiers.
Em Paris no restaurante de seu irmão Catarina trabalha corajosamente. Este serviço que se prolonga por todo o ano é para ela fonte de grande sacrifício. Sua cunhada esposa de Humberto Labouré dirigia em Châtillon-Sur-Seine um pensionato frequentado pelas melhores famílias da região. Carlos impressionado com a angústia da irmã prepara sem duvida os caminhos para uma solução benéfica. Em breve Catarina deixa Paris para Châtillon. Embora calorosamente acolhida sente-se pouco à vontade naquele meio aristocrático que não condizia com sua simplicidade. Mal chega, já sonha voltar. No entanto, Deus a esperava ali.
Sabendo da existência duma casa de Filhas da Caridade naquela cidade Catarina resolve ir até lá, seu desejo de se tornar religiosa cresce cada vez mais e quer confiar isto à superiora. É conduzida ao parlátorio. Um quadro atrai sua atenção, é o retrato de um padre idoso que ela já vira em algum lugar. Eis o padre que vi em sonho, mas quem é ele? É nosso fundador, São Vicente de Paulo, responde a jovem irmã que a acompanha. Ele havia dito: Virás a mim. E Catarina veio. Ela silencia, mas uma grande luz a ilumina, a paz e a alegria inundam seu coração. Catarina será Filha da Caridade.
As relações com o pai continuam tensas. Ele ainda espera um regresso. A senhora Humberto Labouré consegue convencê-lo e depois de muito hesitar acaba consentindo. Nos princípios de 1830 Catarina começará seu Postulado na casa de Châtillon- Sur-Seine. Está profundamente feliz. Uma alegria serena fá-la cumprir com amor e entusiasmo todas as suas atividades cotidianas. Catarina descobre a imensidão da miséria e a urgência em atenuá-la.
Três meses depois a 21 de abril de 1830 Catarina transpõe a grande porta da Casa Mãe das Filhas da Caridade, 140, rue Du Bac, em Paris, para ali passar o seu tempo de formação. Estava ainda vestida como as jovens de sua aldeia: saia rodada e avental de seda, grande chale com franjas, touquinha branca, prendendo bem os cabelos. Para Catarina é o passo definitivo: Senhor, aqui estou! Catarina vestida com a roupa das noviças inicia fervorosamente esta nova etapa de sua vida de Filha da Caridade.
Quatro dias após sua chegada no seminário houve a transladação do corpo de São Vicente de Paulo, da Catedral de Notre Dame de paris, onde estava exposto desde o dia 10 de abril de 1830 para a capela do Larazistas, 95 rue de Sévres, em Paris. No domingo dia 25, foi celebrada uma missa solene na Catedral diante do relicário do grande apóstolo da caridade. À tarde o relicário conduzido por 30 padres da Missão é seguido por grande multidão: padres, autoridades civis e religiosas, pobres, o povo de Paris; a procissão é um cortejo triunfante em honra do padre Vicente. Oitocentas Filhas da Caridade precedem o cortejo. Entre elas, Catarina com o coração cheio de alegria. Depois da transladação as festas se prolongaram com uma novena na capela dos padres Lazaristas onde o relicário fica exposto. As irmãs vêm diariamente rezar diante das santas relíquias.
Aparentemente nenhuma vida religiosa foi mais comum, mais simples do que a sua. Ela rezava. Obedecia. Submetia-se sem comentários. Verdadeiramente como declarou o Papa Pio XII por ocasião da Beatificação: A santa do dever e do silêncio. Pouco tempo depois de sua tomada de hábito, Irmã Catarina deixa a Casa Mãe da Rue Du Bac. Suas superioras enviaram-na para o asilo de velhinhos em Eighien. Ali passará toda a sua vida. Este hospício, fundado pela duquesa de Bourbon era separado da casa da Caridade da Rua de Reuilly apenas por um grande jardim. Uma superiora dirigia os dois estabelecimentos. As aparições são uma luz para a vida de Irmã Catarina. A Virgem Maria lhe revelou a fisionomia de Deus. Agora, aprende a reconhecê-lo nas pessoas que sofrem.
Como em Fain-les-Moutiers, nenhum trabalho por mais duro que fosse era rejeitado por Irmã Catarina. Não mede esforços e nem sacrifícios para causar alegria ao seu redor. Cerca os velhinhos de cuidado e atenção mais de 40 anos. Fala pouco, vive num estado constante de recolhimento. As meninas do campo dizia São Vicente dando como exemplo às Filhas da Caridade, só querem o que Deus lhes deu e se contentam com o seu alimento e vestuário. Assim se passou a vida de Irmã Catarina, uma série de ações modestas: as mãos no trabalho e o coração em Deus.
Sempre bem humorada, espalhando serenidade que encantava quem a conhecia. Ia dos velhinhos ao galinheiro, de que estava também encarregada; depois obrigada pela idade a um trabalho mais sedentário foi para a portaria do hospício, onde acolhe os visitantes ou aqueles que pedem socorro. Ali cria também um relacionamento caloroso com cada um. Deverá viver a época dolorosa da Comuna, mas Irmã Labouré não desanima e mantém sua fé em Deus e nas promessas da Santíssima Virgem Maria. Ajudada pelas outras irmãs protege a superiora molestada, favorece a fuga de dois soldados feridos e distribui medalhas aos revolucionários. Passada a tormenta Irmã Catarina retoma seu lugar na portaria, mãos à obra, lábios cerrados sobre seu segredo e o coração voltado para o essencial.
Irmã Catarina declina em suas forças, mas guarda sua paciência e seu espírito de serviço. Não verei o próximo ano, dizia ela em 1876. Chegou o momento de falar, a Santíssima Virgem libera-a do segredo. Não tendo mais seu confessor habitual, é Irmã Dufés, superiora da casa de Reuilly quem recebe suas confidências. A sala está na penumbra, mas a radiosa evocação de Maria a ilumina. Ouvi como o fru-fru de um vestido de seda. Eu a vi bela em sua maior beleza. A velha religiosa está transfigurada. Irmã Dufés contempla-a, primeiro com admiração e depois com emoção e terminado o diálogo, é ela a Irmã Superiora quem se ajoelha diante de sua humilde filha. A 31 de dezembro de 1896 após ter recebido os últimos sacramentos, Irmã Catarina parece adormecer. Quase nem percebemos que ela deixara de viver. Jamais vi morte tão calma e tão serena, diria mais tarde Irmã Dufés, sensibilizada pela serenidade de sua fisionomia. Irmã Catarina tinha setenta anos.
A 3 de janeiro de 1877 duzentas e cinquenta Filhas da Caridade, unidas às pessoas idosas do hospício e à multidão numerosa acompanham na capela de Reuilly o corpo daquela que tanto amaram. Cinquenta e seis anos mais tarde o Cardeal Vernier, Arcebispo de Paris, fez proceder à exumação na presença de dois médicos, da Superiora Geral e de outras testemunhas, em vista da Beatificação de Irmã Catarina. Tal como tinha sido posta no caixão a 3 de janeiro de 1877, assim foi encontrada a 21 de março de 1933. O corpo estava intato, os membros flexíveis e foi transferida para a Rue Du Bac, na capela atual. É sob o altar da Virgem do globo que Irmã Catarina repousa, num relicário, no mesmo lugar onde no século anterior Maria lhe aparecera. A 27 de julho de 1947 Sua Santidade o Papa Pio XII incluía no número dos santos Irmã Catarina, humilde e modesta que se comprazia em denominar A santa do Silêncio.

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